Não havia no povoado emprego pior que o de porteiro de boate.
Mas que outra coisa poderia fazer aquele homem?
O fato é que não estudou, não havia aprendido a ler nem escrever, não
aprendera nenhuma outra atividade ou ofício em sua vida.
Para sobreviver, era isso o que ele fazia: era porteiro de boate.
Um dia, contrataram um jovem cheio de idéias, criativo e empreendedor
para ser o novo gerente de boate.
Ele chegou dedicido a modernizar o estabelecimento.
Fez mudanças e chamou os funcionários para dar-lhes as novas instruções.
Ao porteiro ele disse:
- A partir de hoje, o senhor, além de ficar na portaria, vai preparar um
relatório semanal onde registrará a quantidade de pessoas que entram e seus
comentários e reclamações sobre os serviços de nosso estabelecimento.
- Eu adoraria fazer isso, senhor - balbuciou - mas eu não sei ler nem
escrever.
- Ah! Quanto eu o sinto! Mas se é assim, já não poderá seguir trabalhando
aqui.
- Mas, senhor, não pode me despedir, eu trabalhei nisto a minha vida
inteira, desde os meus 15 anos, e já estou com 45; não sei fazer outra coisa.
- Olhe, eu compreendo, mas não posso fazer nada pelo senhor. Vamos lhe
dar uma boa indenização e espero que encontre algo que fazer. Eu sinto muito e
que tenha sorte.
Sem mais nem menos, deu meia volta e foi embora. O porteiro sentiu como
se o mundo desmoronasse.
Que fazer para sobreviver agora?
Lembrou-se de que, no prostíbulo, quando quebrava alguma cadeira ou mesa,
ele a arrumava, com cuidado e carinho.
Pensou que esta poderia ser uma boa ocupação até conseguir um novo
emprego.
Mas só contava com alguns pregos enferrujados e um alicate mal
conservado.
Usaria o dinheiro da indenização para comprar uma caixa de ferramentas
completa.
Como o povoado não tinha casa de ferragens, deveria viajar dois dias em
uma mula para ir ao povoado mais próximo para realizar a compra. E assim o fez.
No seu regresso, um vizinho bateu à sua porta:
- Venho para perguntar se você tem um martelo para me emprestar.
- Sim, acabo de comprá-lo, mas eu preciso dele para trabalhar... já que
fiquei sem emprego...
- Bom, mas eu o devolverei amanhã bem cedo.
- Se é assim, está bom.
Na manhã seguinte, como havia prometido, o vizinho bateu à porta e disse:
- Olha, eu ainda preciso do martelo. Por que você não o vende para mim?
- Não, eu preciso dele para trabalhar e além do mais, a casa de ferragens
mais próxima está a dois dias mula de viagem.
- Façamos um trato - disse o vizinho. Eu pagarei os dias de ida e volta
mais o preço do martelo, já que você está sem trabalho no momento, e pode ir lá
buscar um martelo e eu não posso largar do trabalho para ir lá comprar. Que lhe
parece?
Realmente, isto lhe daria trabalho por mais dois dias... aceitou.
Voltou a montar na sua mula e viajou. No seu regresso, outro vizinho o esperava
na porta de sua casa.
- Olá, vizinho. Você vendeu um martelo a nosso amigo. Eu necessito de
algumas ferramentas, estou disposto a pagar-lhe seus dias de viajem, mais um
pequeno lucro para que você as compre para mim, pois não disponho de tempo para
viajar para fazer compras. Que lhe parece?
O ex-porteiro abriu sua caixa de ferramentas e seu vizinho escolheu um
alicate, uma chave de fenda, um martelo e uma talhadeira. Pagou e foi embora. E
nosso amigo guardou as palavras que escutara: "não disponho de tempo para
viajar para fazer compras".
Se isto fosse certo, muita gente poderia necessitar que ele viajasse para
trazer as ferramentas. Na viajem seguinte, arriscou um pouco mais de dinheiro
trazendo mais ferramentas do que as que havia vendido. De fato, poderia
economizar algum tempo em viagens. A notícia começou a se espalhar pelo povoado
e muitos, querendo economizar a viajem, faziam encomendas.
Agora, como vendedor de ferramentas, uma vez por semana viajava e trazia
o que precisavam seus clientes. Com o tempo, alugou um galpão para estocar as
ferramentas e alguns meses depois, comprou uma vitrine e um balcão e transformou
o galpão na primeira loja de ferragens do povoado. Todos estavam contentes e
compravam dele. Já não viajava, os fabricantes lhe enviavam seus pedidos. Ele
era um bom cliente. Com o tempo, as pessoas dos povoados vizinhos preferiam
comprar na sua loja de ferragens, do que gastar dias em viagens.
Um dia ele lembrou de um amigo seu que era torneiro e ferreiro e pensou
que este poderia fabricar as cabeças dos martelos. E logo, por que não, as
chaves de fendas, os alicates, as talhadeiras, etc.. E após foram os pregos e
os parafusos...
Em poucos anos, nosso amigo se transformou, com seu trabalho, em um rico
e próspero fabricante de ferramentas. Um dia decidiu doar uma escola ao
povoado. Nela, além de ler e escrever, as crianças aprenderiam algum ofício.
No dia da inauguração da escola, o prefeito lhe entregou as chaves da
cidade, o abraçou e lhe disse:
- É com grande orgulho e gratidão que lhe pedimos que nos conceda a honra
de colocar a sua assinatura na primeira página do Livro de Atas desta nova
escola.
- A honra seria minha - disse o homem. Seria a coisa que mais me daria
prazer, assinar o Livro, mas eu não sei ler nem escrever, sou analfabeto.
- O senhor?!?! - disse o prefeito sem acreditar. O senhor construiu um
império industrial sem saber ler nem escrever?
Estou abismado. Eu pergunto: o que teria sido do senhor se soubesse ler e
escrever?
- Isso eu posso responder - disse o homem com calma. Se eu soubesse ler e
escrever... ainda seria o porteiro da boate.
O importante é não ter vergonha de começar de novo quando tudo parece ter
acabado. Uma porta que se fecha pode ser a oportunidade de entrar por uma outra
que pode ser bem melhor. Mas que você jamais iria saber se nada tivesse acontecido.
Portanto, quando algo se perde não lamente nem desista de lutar. Continue em
frente, atrás de novas ideias e valores, jamais desista. E no seu caminho,
poderá surgir a oportunidade que fará realmente a diferença.
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